Ediana Souza é atriz da primeira série brasileira produzida pela Netflix. Estrela a personagem Camila da série 3% que estreia a segunda temporada no dia 27 de Abril. Ediana foi aluna da Cidade dos Meninos durante 2002 e 2003 e conta sua história nessa entrevista que fizemos com ela. Confira!
1. Você foi aluna da instituição durante o período de 2002 e 2003, correto? Quais são as lembranças marcantes desse período na Cidade dos Meninos?
Sim. Tenho boas lembranças desse período. Foi na Cidade dos Meninos que me apresentei no palco pela primeira vez. Foi muito especial. Ter sido interna também foi uma experiência bem marcante. Lidar com a saudade de casa e fazer daquele espaço sua casa também. A gente andava em fila indiana com o Seu Batista atento nos observando, eu achava muito engraçado, mas não saia da fila não. A gente almoçava e corria para as oficinas. Também morria de medo de ficar na pedagógica! E ficava muito emocionada quando encontrava Seu Jairo por lá. Acho a CDM um espaço muito bonito e eu sou muito agradecida.
2. Como era a convivência com a mãe social, colegas de alojamento e professores?
A convivência era a melhor possível. Lembro com muito carinho do tempo em que estive como interna e semi-interna. Minhas amigas e amigos tanto de casa quanto da escola/oficina eram incríveis! A gente se divertia muito e estudava muito também. Minha mãe social assim como os instrutores eram muito amáveis, sempre muito atenciosos conosco e pacientes, muito pacientes! Rs. Tinham outras mães sociais mais rígidas, mas a nossa era um doce. Os professores eram muito bons, me lembro muito bem das aulas de filosofia, história, matemática…
3. Vocês tinham até um grupo de amigas, entre elas, a nossa professora atual de teatro Glenda Bastos fazia parte, conta um pouco dessa história?
Sim, amigas que guardo no coração. Glenda e eu fizemos teatro juntas! Ela deve ser ótima porque é uma atriz maravilhosa. A Heloisa, Poliana, as Renatas… Era muito engraçado. Como na escola tínhamos que ter muita disciplina, qualquer conversa no canto era bronca! Mas a gente sabia da dedicação de cada professor, cada funcionário e sempre fomos muito gratas. A gente tentava fazer os cursos juntas, ficávamos juntas o tempo todo.
Me sentia em um filme, as vezes um pouco a parte do mundo, mas sabendo que aquela experiência, aquela oportunidade era importante pra minha formação e iria fazer diferença. O que de fato aconteceu. A Cidade dos Meninos me preparou muito para o mundo. Porque como todo adolescente a gente quer subverter as coisas, mudar as regras, mas ao mesmo tempo precisamos seguir firmes no nosso objetivo e isso exige disciplina, foco e muita força de vontade.
4. Você fez teatro na instituição no período que esteve aqui, foi aqui seu primeiro “start” para a profissão que segue hoje?
Sim, tudo começou aí. Eu sempre quis fazer teatro, ser atriz. Me lembro que dia um vizinho me contou de um colégio que tinha aulas de teatro. Naquela mesma hora decidi que queria estudar na Cidade dos Meninos.
5. A instituição tem contribuição na sua formação?
Muita. Ela foi fundamental em vários sentidos. Fiquei muito animada quando soube que tinham vários cursos e que eu poderia escolher! Esses cursos foram muito importantes para meu currículo, para conseguir os estágios que fiz durante o ensino médio, o primeiro emprego. As aulas de teatro que tive com o Toninho (Antônio Rodrigues) e o Paulinho (Paulo H. Azevedo), foram as minhas primeiras bases como atriz. Elas ampliaram minhas possibilidades enquanto artista, saí daí direto para o Palácio das Artes.
E a qualidade do estudo que a escola oferece também faz diferença no momento do vestibular. Tanto que prestei o ENEM e ganhei uma bolsa integral pelo PROUNI pra fazer a faculdade de Publicidade na Universidade Mackenzie, que é uma universidade super tradicional e considerada uma das melhores de São Paulo. Fiquei muito feliz. Quando prestei vestibular para ela não fazia ideia, só depois que me mudei pra SP tive noção de onde eu tinha acabado de entrar. Quatro anos depois saí formada. Hoje estou terminando meu último semestre da Escola de Arte Dramática da USP (EAD/ECA/USP), que também era um sonho, concluir um curso de teatro. Ufa, quanta coisa, conto sobre essa trajetória para que ela possa ser uma inspiração para outros jovens tão sonhadores quanto eu! Então, se eu puder dizer algo aos alunos que estão na CDM agora digo: não duvide nunca do seu potencial e de onde você pode chegar. Você pode ir mais longe do que imagina!
Vida pessoal
6 . Você morou um tempo em Ribeirão das Neves, correto? Como foi esse período de sua vida?
Sim. Morei no bairro Metropolitano. Foi um período bem difícil, principalmente porque o dinheiro que foi pago para a infraestrutura do bairro desapareceu e toda a comunidade ficou apenas com a promessa. Quando a gente se mudou pra lá não tinha água encanada, rede de esgoto, asfalto… e a violência no bairro crescia muito. Eu estudava no bairro vizinho, tenho amigos dessa época até hoje. Não tenho muitas notícias de lá porque depois de alguns anos minha família se mudou, mas espero que esteja melhor.
7. Qual foi o momento que você decidiu que o teatro seria sua carreira e profissão?
Essa é uma pergunta que me faço as vezes, acredita? Porque é uma profissão que nos desafia constantemente, nos surpreende, nos provoca. A verdade é que eu sempre quis ser atriz, desde criança, então todo o caminho que trilhei foi para que isso acontecesse.
8. Quais são seus planos para o futuro, TV, Cinema, Teatro?
No teatro estamos em processo de montagem de um novo espetáculo chamado Resposta ao Capataz. Como ponto de partida temos uma das cartas atribuídas a Américo Vespúcio sobre sua chegada ao Brasil chamada Novo Mundo (mundus novus); esse pensamento de que somos um povo exótico e o processo de colonização por parte da Europa. A ideia é fazer uma crítica a visão eurocêntrica que temos da nossa própria história e de nós mesmos. Descobrir as histórias não oficiais, por exemplo. E para contrapor essa carta estamos estudando “Discurso Sobre o Colonialismo”, de Aimé Césaire, entre outros materiais. Estrearemos em julho aqui em SP. Também estou escrevendo um texto para crianças, uma peça infanto-juvenil muito influenciada pela obra da Cristiane Paoli Quito que foi minha diretora semestre passado. Eu adoro audiovisual, séries, tv, cinema e espero poder cada vez mais trabalhar nessas linguagens.
Sobre a série 3%
8. Nessa segunda temporada da série 3%, a personagem Camila ganha novo fôlego? O que podemos esperar?
Não posso falar sobre a segunda temporada, mas posso dizer que fiquei muito feliz com o retorno da Camila.
9. O que o público que gosta da série pode esperar, tendo em vista que agora alguns personagens chegaram no Mar Alto. E sua personagem, ela não foi, essa espécie de periferia da série vai ter participação relevante pelo visto?
A série está linda, né? Saiu o trailer esses dias, fiquei impressionada! Não posso dar mais detalhes, mas tenho certeza que será um sucesso a temporada 2. Espero que todos assistam dia 27 de abril na Netflix.
10. Qual é a emoção de participar da primeira série produzida pela Netflix no Brasil?
É maravilhoso. Fazer parte do processo de criação de uma série internacional é um grande aprendizado. Ver de perto uma equipe enorme completamente empenhada e dando o seu melhor é lindo e muito potente. Mostra a força que tem o Brasil.
11. Você pensa um dia voltar aqui no auditório da Cidade dos Meninos, quem sabe para apresentar sua peça de teatro?
Eu adoraria!
Vi o auditório ficar pronto e quando estava lá dentro ficava olhando como nós éramos muitos! Rs.
Espero que o pessoal me encontre nas redes sociais pra eu matar um pouquinho a saudade desse tempo! No insta estou lá como @didi_souza
Beijo grande e até a próxima!